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O Desenvolvimento por uma Abordagem Estruturalista:
O caso do Rio de Janeiro sob uma ótica cepalina

Bruno Cabral Muniz Freire¹

¹Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e bolsista de Estágio Interno Complementar (EIC) pela UERJ no projeto Rede Pró-Rio.

Resumo: O presente trabalho visa a fazer uma análise econômica utilizando-se as ideias cepalinas para entender o processo de desenvolvimento fluminense. O objetivo é analisar a estrutura de consumo privada no estado e quais suas implicações para o desenvolvimento regional sob a ótica da visão estruturalista.

  1. Introdução

O modelo desenvolvimentista proposto pela escola de pensamento da CEPAL defendia a interpretação histórica da região em que se pretendia fomentar o desenvolvimento, desta forma, estes estudiosos entendiam que o crescimento não é homogêneo – como defendiam os nascentes economistas ortodoxos, oriundos principalmente dos EUA e Europa – e precisa ser encarado com base nas questões de cada região. De forma a caracterizar a CEPAL, Fonseca (2000) sintetiza sua criação como:

A importância da Cepal reside em ter organizado, sistematizado e apresentado, dentro dos cânones formais técnicos e científicos, teses que de forma mais ou menos fragmentária vinham sendo divulgadas na América Latina já há mais tempo, do final do século XIX às primeiras décadas do século XX. (FONSECA, 2000, p. 339)

Além do exposto, Fonseca (2000, p. 339-40) conclui que “sua importância reside menos em descobrir o novo e mais em organizar um discurso coerente”. Desta forma, o presente artigo propõe-se a aplicar tal modelo ao caso do Rio de Janeiro, em sua estrutura de consumo.

2.A Estrutura do Consumo no Rio de Janeiro

Trazendo o estudo do estruturalismo aplicado ao Rio de Janeiro, uma característica que difere os países ricos dos pobres é o consumo privado; como a renda nos primeiros é mais elevada, a composição do consumo está mais atrelada a bens manufaturados, enquanto que a composição dos de renda mais baixa está estrita ao consumo dos chamados bens de primeira necessidade, como explicitam Castro e Lessa (1984), na tabela 1.

Tabela 1 – Consumo privado: países pobres x ricos.

Fonte: Castro e Lessa. Introdução à economia: Uma abordagem estruturalista, 26° Ed. Rio de Janeiro, 1984, pág. 52.

A interpretação deve ser feita em valores relativos, logo, não é necessário supor que o Equador consome mais alimentos e bebidas que os EUA, mas sim, que ele consome mais de sua renda com estes itens que os estadunidenses. Essa composição evidencia uma relação intrínseca a estes dois países, enquanto os EUA consomem mais bens manufaturados com valores adicionados maiores, a renda equatoriana está sendo gasta em artigos básicos, com baixo valor agregado; a incapacidade de conseguir consumir artigos mais elaborados condena o Equador a importar os artigos mais elaborados, pois a sua demanda interna não é grande o suficiente para gerar um processo endógeno de transformação.

Tabela 2 – Consumo por classes de rendimento familiar no Rio de Janeiro 2017-2018

Fonte: Pesquisa de Orçamento Familiar/IBGE

Este quadro é consequência do que Castro e Lessa (1984) chamam a atenção: a distribuição da renda acompanha a estrutura do emprego, ou seja, empregos mais qualificados percebem rendimentos maiores em detrimentos de empregos de menor qualificação.

Levando a análise ao caso concreto, o consumo das classes de maior renda, no Rio de Janeiro, espelha o mesmo que o observado por Castro e Lessa, em um mesmo nível geográfico essa proporção mantém-se verdadeira, como mostra a tabela 2. Desta forma, elevar o padrão de consumo da população é um ponto para o encadeamento produtivo, ao abrir espaço para bens mais elaborados, entretanto, é necessário alterar a composição do mercado de trabalho e focar em qualificação profissional, para refinar o aparelho produtivo fluminense. Observa-se, portanto, que estes pontos estão entrelaçados: para diversificar a produção é necessário que as pessoas consumam bens mais elaborados, que só será possível caso a renda seja incrementada, esta, por sua vez, está entrelaçada à qualificação da mão de obra.

3. Conclusão

Fica, portanto, evidente, que dada a variação no nível de renda, o consumo se altera também: classes mais altas consomem produtos e serviços de maior sofisticação. Como fica explícito no item de transportes, a comparação entre os subitens “urbano” e “aquisição de veículos” apresentam uma correlação inversa de acordo com cada nível de renda. Outro ponto de interesse para a análise é o item “despesas de consumo”, ou seja, o consumo per si de cada classe; enquanto a classe mais baixa gasta mais de 90% de sua renda consumindo, a classe mais elevada gasta pouco mais da metade de sua renda, evidenciando que essa última a utiliza para fins de ampliação da mesma, ou seja, sua fonte de renda não é apenas o trabalho, como nos níveis mais inferiores. A partir de sua elevada renda, as classes mais altas incrementam ainda mais seus rendimentos, intensificando ainda mais a concentração de renda. Entretanto, o ponto fundamental aqui é: as classes mais altas só podem incrementar seu rendimento por causa de seu emprego que lhe proporciona um rendimento maior e lhes permite diversificar o consumo e a aplicação de seus salários.

4. Referências Bibliográficas

Bresser-Pereira, L. C. Do antigo ao novo desenvolvimentismo na américa latina. Handbook of Latin American Economics. Oxford University Press, 2011.

Castro, A. e Lessa, C. Introdução à economia: uma abordagem estruturalista, 26ª ed. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1984.

Fonseca, P. C. D. As origens e as vertentes formadoras do pensamento cepalino. Rio de Janeiro, Revista Brasileira de Economia, 2000.

Furtado, C. Formação econômica do Brasil, 34ª ed. São Paulo, Companhia das Letras, 2007.

Lessa, C. O Rio de todos os Brasis: uma reflexão em busca da auto-estima. Rio de Janeiro, Record, 2000.

Luz, N. V. A luta pela industrialização do Brasil. 2ª ed. São Paulo, Alfa-Ômega, 1975.

Mendonça, S. R. Estado e economia no Brasil: opções de desenvolvimento. Rio de Janeiro, Graal, 1986.

Rangel, I. Obras reunidas: volume 1, 3ª ed. Rio de Janeiro, Contraponto, 2012.

Prebisch, R. The economic development of latin america and its principal problems. United Nation. 1950.

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