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Ambientes de inovação: APLs, parques tecnológicos e incubadoras

RELATÓRIO E APRESENTAÇÃO DO NONO WEBINÁRIO ‘AMBIENTES DE INOVAÇÃO: APLS, PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS’ DE REALIZAÇÃO DA REDE PRÓ-RIO.

O 9º encontro da série ‘O Rio de Janeiro pós-Covid’ foi o webinar ‘Ambientes de inovação: APLs, parques tecnológicos e incubadoras’, que aconteceu em 23 de novembro de 2021. Contou com a participação de de José Aranha (assessor da diretoria de tecnologia da FAPERJ, assessor de inovação da diretoria regional do SENAC-RJ e presidente do conselho da ANPROTEC), Leonardo Melo (Gerente de Relações Institucionais do Parque Tecnológico da UFRJ), Prof. Marcelo Matos (IE/UFRJ) e Profa. Renata La Rovere (IE/UFRJ e INCT/PPED) como mediadora.

prof. Marcelo Matos

A apresentação do Professor Marcelo começa dissertando sobre a importância de entender não só o funcionamento dos processos de produção e a interação entre os agentes econômicos, políticos e sociais, mas também, como estes Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos influenciam a ocupação e uso do território pela sociedade a fim de respaldar políticas públicas assertivas. Ademais, compreende a complexidade do sistema de desenvolvimento quando os fatores incluem tanto aqueles intensivos em conhecimento, quanto os que utilizam conhecimento endógeno. Além de analisar todos os três setores da economia em âmbito local, nacional ou internacional.

A complexidade da agenda de pesquisa fica explícita ao interpretar que os referenciais teóricos tradicionais sobre empreendedorismo, apesar de grande ajuda, não possuem profundidade de estudo relativa ao desenvolvimento local sustentável. Torna-se, então, necessário o uso de referenciais nacionais já familiarizados com os sistemas locais de inovação orientados para a inclusão. É elucidada, ainda, a necessidade de enfoque na sustentabilidade em todas as suas dimensões visando enriquecer a noção do avanço socioeconômico, com cinco principais aspectos segundo Sachs (2009): ecológico/ambiental, territorial, social/cultural, política/institucional e econômico.

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Além disso, todo arranjo produtivo possui subsistemas característicos do espaço, citando desde sistemas de financiamento até a especificidade de interdependência entre setores, portanto, é essencial colocar a sociedade como centro da discussão e verificar como tais subsistemas interferem no desenvolvimento sustentável. Inclusive, argumenta-se como pesquisadores Uruguaios colocam as universidades e ICTs como motrizes do desenvolvimento e não apenas do empreendedorismo.

Em survey com incubadoras, aceleradoras e parques tecnológicos, o professor buscou criar indicadores com pontuação entre 0 e 1 para servirem como referência do comprometimento, nível de estrutura e esforço para cada uma das cinco dimensões citadas. Utilizou-se como base aspectos que pudessem ser comprovados por documento, evitando opiniões dos pesquisados de forma a possibilitar a periodicidade na formação dos indicadores. Como resultado, o palestrante apresentou uma ilustração do mapa do Estado do Rio de Janeiro com a pontuação de cada região para cada esfera de observação, concebida em um sistema de indicadores baseados em dados secundários e com peso de acordo com a importância daquela categoria analisada para a localidade, ou seja, dependendo da divergência entre a atividade de inovação central e a vocação do território, altera-se o cálculo da pontuação.

Portanto, para sugerir políticas públicas com o propósito de estruturar o incentivo, principalmente no momento que o discurso socioambiental ganha espaço na política, apresenta-se crucial considerar não apenas dimensões sob o prisma da inovação tecnológica como também no viés de solucionar desafios territoriais, com exemplo da garantia de acesso à justiça, saneamento, melhora da distribuição de renda, entre outros, objetivando potencializar o impacto dos Arranjos Produtivos Locais (APLs) no avanço sustentável.

ambientes de inovação e incubadoras

Leonardo Melo

Em sequência, Leonardo começa falando sobre o Parque Tecnológico da UFRJ e o seu pioneirismo no país. Ao final da década de 1990 ainda era inconcebível a ideia de um relacionamento entre empresas privadas e universidades ainda dentro do campus. O projeto do Parque Tecnológico deu início à um processo descentralizador ao redor do Brasil, que não teve sinergia entre governo, universidades e agentes privados. A importância de parques tecnológicos para as universidades é no sentido de fazer cumprir seu dever constitucional. Esses projetos transformam a produção de conhecimento em inovação e desenvolvimento sustentável na sociedade. A UFRJ, inclusive, possui como lema “fazer um modelo de desenvolvimento que se sustente no tempo e aponte para o futuro”.

Aprovado em 1997, o projeto teve sua conclusão apenas em 2003, pois na época a integração entre os agentes de inovação era pensada via espaços físicos como na ideia de distritos industriais. Assim, a infraestrutura do território era o principal norte a seguir. O convidado, ao ser questionado pelo apresentador se isso já não seria um modelo ultrapassado, responde que no contexto do Estado do Rio de Janeiro da época, a proposta poderia ser considerada como visionária por dois motivos, o de conceber o relacionamento da universidade com empresas e por acreditar que o Estado até então reconhecido por atividades manufatureiras tradicionais pudesse ser tornar referência em inovação.

Tal fato acontece quando a atividade petrolífera proporciona divisas para investimento da Petrobras na universidade, a qual mais tarde possibilita, por exemplo, a descoberta de um dos maiores campos de petróleo em aguas profundas do mundo e coloca o Brasil no mapa mundial de inovação tecnológica, alinhando o Rio de Janeiro com a economia do século XXI.

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Porém, o fato da UFRJ, ou mesmo o Estado do Rio, serem referências na atividade petrolífera reforçou a ideia dos distritos industriais isolados e desconectados da cidade. Esse isolamento limitou a abrangência e transbordamento do Parque Tecnológico para outros lugares. Com o crescimento das cidades, diversos desafios foram propostos em sociedade e a abordagem da integração dos agentes ser feita apenas no espaço físico torna-se insuficiente.

Ainda é mencionado que caso o projeto não se readequasse estaria, assim, fadado ao fracasso por deixar de ser competitivo na busca de parcerias, inovações e talentos em ambiente contemporâneo e dinâmico no qual o foco deixa de ser a estrutura tátil e passa para serviços e criação de redes. Um exemplo da metodologia anterior seria do parque tecnológico exibir como slogan a área em metro quadrado que ocupa. Hoje tal metrificação é falha, pois existe desde parceria com universidade chinesa até membros do programa residindo fora do Estado.

Com efeito, a pandemia do Coronavírus evidenciou o atraso brasileiro em relação a trazer o virtual não somente como habilitador, mas principalmente como núcleo das estratégias, considerando que o movimento acontece internacionalmente desde a década de 1980. De modo que os negócios hoje atuam no aspecto físico e virtual concomitantemente.

Logo, o aspecto de rede social somado ao físico e virtual define a interconexão global como fator impositivo do sucesso nos sistemas de inovação. O Gerente de Relações Institucionais do Parque Tecnológico da UFRJ finaliza sua participação afirmando que o Estado do Rio de Janeiro não planeja suas políticas considerando o virtual como central, e dá um exemplo prático desta mudança de paradigma quando, durante a construção da Inovateca, interviram completamente no decurso da execução da obra visando o projeto ser digitalmente presente e reproduziu em seguida vídeo de um tour pelo empreendimento finalizado.

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José Aranha

Na última apresentação do Webinar, José expõe a importância dos ambientes de inovação serem fruto do esforço endógeno de seus idealizadores e realizadores. E não mera decisão política unilateral. Além disso, destaca a relevância em mesclar estudos em diferentes áreas de atuação na composição de políticas públicas contemporâneas. Não somente, mas também entender que o aumento das pesquisas sobre o tema é uma variável dentro da própria evolução do sistema. Ao sair da visão dos distritos industriais e concebendo a ideia de cidades inteligentes, por exemplo. Sobre as cidades inteligentes, utiliza o caso do Porto Digital, em Pernambuco, um parque tecnológico incorporado à cidade, sem delimitação física. Basta estar em Recife para estar no Porto Digital. Convergência possível quando se integra diferentes iniciativas.

Citando a hélice tripla de Etzkowitz, a qual considera o desenvolvimento social com o governo, indústria e universidade como atores protagonistas do avanço inovativo, propõe o agente social como quarta hélice por experiência como coordenador de projeto na favela da Rocinha. Inclusive, devido a sua participação ativa junto à comunidade conseguiu visualizar outros agentes indispensáveis, como as empresas SESI e SENAI. Empresas que, além de proporcionarem cursos profissionalizantes, servem de conexão com o conhecimento das universidades para solução dos problemas da localidade. Ambos fatores ajudam o empreendedor local a criar, de modo independente, novos produtos e serviços.

Assim sendo, aborda a urgência no estudo das favelas como “micro cidades”. O Fórum Econômico Mundial afirma que o mundo tornar-se-á mais adensado em questões de moradia e que um terço da população mundial viverá em favelas. Territórios que já possuem características de cidades inteligentes e podem servir de fonte para o entendimento do futuro.  Portanto, readequar estes locais visando sua inclusão na cidade é o que torna, de fato, a cidade inteligente.

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Rodada de Perguntas

A mediadora Profa. Renata, convida Marcelo a dissertar se na formação dos indicadores considerou-se a busca de soluções concretas para os problemas do território por inciativa das empresas locais. Marcelo explica que a pesquisa basea-se no Programa Nacional de Apoio aos Ambientes Inovadores de tal forma a considerar três guias na formulação dos indicadores; a proximidade das estruturas de produção com a vocação do território; a sinergia entre os agentes e instituições no desenvolvimento de soluções conjuntas para os desafios em comum; por fim, sobre elementos de referência que metrifiquem a produção de inovação.

Seguindo, Leonardo responde como os resultados atingiriam o público-alvo devido a problemática do digital, onde o excesso de informação pode confundir quem recebe a mensagem. O problema apontado é o fato das organizações buscarem trazer para o digital processos antigos e ineficientes. Mesmo com o momento de pandemia significando uma oportunidade para se repensar toda a lógica produtiva. Logo, a curadoria de informação é essencial nesta mudança para o virtual e para a reformulação de um novo caminho.

Finalizando, Renata pergunta a José, considerando toda a  riqueza de elementos existentes na Rocinha como exemplo, se na configuração de políticas públicas seria possível soluções válidas para diferentes localidades. José afirma objetivamente que, para cada contexto, existem soluções distintas. Em seguida, o convidado, explica que as respostas devem surgir do próprio território e apenas as ferramentas utilizadas devem ser replicadas. A aguda diferença entre culturas e demandas de cada região impossibilitaria a transposição de um solução válida anteriormente para uma localidade distinta. Em conclusão, observa a importância de transição para o digital e considera o acesso à internet algo tão importante quanto o acesso ao saneamento. Uma vez que esse elemento pode trazer competitividade e interconexão que facilite a resolução do restante dos problemas.

Autor: Leonardo Santos Ribeiro Aluno de Iniciação Científica do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ).

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