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Logística e encadeamento produtivo

RELATÓRIO E APRESENTAÇÃO DO oitavo WEBINÁRIO ‘logística e encadeamento produtivo’ DE REALIZAÇÃO DA REDE PRÓ-RIO.

O 8º encontro da série “O Rio de Janeiro pós-Covid” foi o webinar “Logística e Encadeamento Produtivo”, que aconteceu em 27/10/2021. O evento contou com a participação de Eduardo Duprat (Setrans), Prof. Floriano Godinho (PPFH-UERJ) e Renato Regazzi (SEBRAE-RJ) como palestrantes, e de Antonio Brasiliano (Brasiliano Interisk) como mediador.

Eduardo duprat

A contribuição de Eduardo se inicia com a defesa da importância da logística como instrumento para encadeamento e adensamento das cadeias produtivas, processo que aumenta a competitividade da economia regional e irriga oportunidades ao permitir que mais atores participem desse arranjo produtivo. Nesse sentido, a logística cumpre papel em evitar a formação de setores industriais ocos, nos quais a predominância de enclaves produtivos dificulta a inserção de novos agentes econômicos.

Dando continuidade à palestra, reconhece que a cidade do Rio de Janeiro é um hub, porém a consolidação dessa característica requer a execução de projetos de intervenção logística que satisfaçam o pré-requisito de viabilidade técnica, financeira, ambiental, político-institucional e de lógica estratégica. O palestrante elucida o último pré-requisito como sendo a capacidade dos projetos mais importantes, denominados “âncora”, em viabilizar projetos relacionados à si e, consequentemente, ter papel estratégico na projeção da infraestrutura da região.

Eduardo relembra aos ouvintes que a precariedade da infraestrutura brasileira causa ineficiência logística no país, resultando no aumento do custo do frete pago pelos usuários, fenômeno chamado de “custo-Brasil”. Porém tal deficiência pode ser contornada já no curto prazo pela utilização do potencial de cabotagem pela costa brasileira, alternativa capaz de aliviar a pressão sobre o modal rodoviário.

Em relação ao estado do Rio de Janeiro, o bench-mark recomendado para as autoridades estaduais para ampliar a infraestrutura fluminense são as rodovias do estado de São Paulo, e o princípio orientador dos novos projetos é respeitar as “âncoras” determinadas pelas pesquisas realizadas junto aos atores logísticos da região. Entretanto, o alto custo normalmente incorrido em realizar intervenções logísticas de grande escala, somado à falta de recursos no âmbito da ocorrência do Regime de Recuperação Fiscal na gestão estadual, impõe aos planejadores dessa área a necessidade de recorrer à iniciativa privada para financiar os novos projetos.

Por último, o palestrante ressalta que a eficiência fiscalizadora também cumpre papel em prover competitividade para a logística estadual, visto que o tempo e os recursos utilizados durante a fiscalização são incluídos no custo logístico.

prof. floriano godinho

A análise realizada pelo professor Floriano em relação ao tema parte da constatação de que o estado do Rio de Janeiro conta com adequada capacidade de planejamento, visto que os órgãos técnicos efetuam bem sua função de orientar os gestores estaduais, porém existem problemas de execução ocorrendo na esfera política que impedem a sustentação de bom desempenho na área da infraestrutura e logística.

Segundo o professor, a crise no estado é causada pela descontinuidade de projetos, pois o potencial percebido durante a implantação de intervenções logísticas é desperdiçado pela não introdução de projetos subsequentes para consolidar tal ganho. Para sustentar seu argumento, defende que a perda de dinamicidade na economia do estado não foi causada pela perda do status de capital nacional, e sim pela carência de projetos de promoção da infraestrutura regional entre 1985-2006, visto que no período imediatamente posterior à transferência da capital a logística do estado continuou sendo contemplada através do 1º e 2º PND, e a decadência da região coincide com o estabelecimento de um “vazio” de intervenções logísticas, sendo tal quadro suspendido em 2005 com o anúncio dos investimentos do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), porém retorna após 2015 devido à mencionada ausência de continuidade nas políticas públicas.

A explicação para essa correlação entre dinamicidade econômica e intervenções logísticas consiste no fato do encadeamento produtivo necessário para aumento da competitividade e irrigação de oportunidades ser indissociável ao esforço de integração geográfica do território. O professor Floriano recorre à obra do escritor francês Michel Foucault para demonstrar que a construção de mecanismos públicos sobre os quais a sociedade civil possa assentar suas operações logísticas consiste em função do estado, portanto cabe ao órgão público efetuar a integração geográfica por meio de redes técnicas, que podem ser tanto materiais quanto imateriais, de forma que os agentes econômicos tenham a sua disposição instrumentos para estabelecer a logística. Segue desse argumento que a omissão do Estado em ofertar esse bem público essencial, fato perceptível pela precariedade da infraestrutura na região fluminense, impede a expansão da atividade econômica, partindo da premissa de que é impossível expandir o que já é precário.

Como contribuição final, o palestrante indica que a ausência de infraestrutura adequada pode ser impeditiva para viabilidade de políticas públicas, pois as recentes discussões relativas ao fortalecimento da capacidade da indústria de biotecnologia doméstica via estabelecimento de novos complexos industriais pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) esbarra na inexistência de condições de infraestrutura necessárias nas áreas receptoras desses investimentos.

renato regazzi

Renato inicia sua exposição explicitando que o estado do Rio de Janeiro não é um deserto logístico, isto é, um território desprovido dos modais pelos quais os agentes econômicos possam satisfazer suas necessidades de transporte de bens, serviços e pessoas, e sustenta seu argumento no fato de estarem instalados no estado diversos portos ao longo do literal responsáveis por capacidade logística satisfatória. Além disso, o estado se destaca no quesito de governança, pois estão disponíveis em seu interior mecanismos de planejamento que estão ausentes na maioria dos estados da União. O palestrante utiliza essas características para defender que a cidade do Rio de Janeiro é de fato um hub logístico, porém reconhece que a região está abaixo de seu potencial.

O motivo apontado por Renato para que o estado do Rio de Janeiro não usufrua totalmente os benefícios de sua capacidade logística instalada são a carência de integração entre os modais de transporte e os agentes econômicos, e a inação dos entes estaduais em atrair novos empreendedores através do marketing das vantagens locacionais presentes no Estado, estratégia que ele denomina “empreender o ativos”. Para corrigir essa deficiência, o palestrante apresenta um modelo de encadeamento produtivo sustentado por 4 pilares de atuação: Polos competitivos, encadeamento produtivo corporate, fomento e marketing integrado de procedência.

Para reforçar sua visão de que o Estado deve atuar promovendo o encadeamento para atrair novos investimentos, Renato argumenta que a região já apresenta a dinamicidade e a atividade econômica necessária para despertar o interesse de empresários, dando como exemplos a capacidade aérea instalada, o potencial de expansão apresentado pelo setor siderúrgico e a força dos setores produtivos agregados que compõem a “economia do mar”, portanto cabe ao órgão público irrigar oportunidades através da integração logística desses polos econômicos. Por fim, salienta que o setor logístico tem demandas tecnológicas, que estão sendo continuamente apresentadas no mercado, para usufruir de ganhos de competitividade. Portanto, órgãos estaduais podem apoiar tal iniciativa para promover a modernização da infraestrutura do estado.

rodada de perguntas

O público faz a primeira pergunta à Eduardo Duprat, e questiona o impacto do regime do novo RIOLOG para o desempenho do estado como centro logístico. O palestrante se diz otimista quanto ao sucesso do novo regime, pois alega que além de se adequar à nova legislação, que não permite renúncias fiscais, beneficia os distribuidores estaduais ao trazer ganhos de competitividade durante as fases de armazenamento e estocagem, e finaliza sua resposta defendendo que este mecanismo irá trazer novos investimentos para a região.

A segunda pergunta é feita pelo moderador Antonio e dirigida ao professor Floriano Godinho, e consiste no pedido de melhor elucidação dos motivos que causam a precariedade da infraestrutura do estado, considerando que o professor argumentou em sua palestra que o planejamento feito pelos órgão técnicos é adequado. Floriano argumenta que a raiz do problema é a vontade política pelos gestores estaduais, pois a descontinuidade de projetos causa o engavetamento de propostas de realização da integração modal necessária para melhorar o desempenho da infraestrutura instalada, e também o abandono pelo poder público de algumas iniciativas promissoras, tal como o Arco Metropolitano. Como consequência desse processo, as redes técnicas necessárias para integrar geograficamente o território não estão satisfatoriamente presentes.

Em seguida, o público convida Eduardo Duprat a comentar sobre possíveis projetos de infraestrutura na região metropolitana do Rio de Janeiro, o qual alega ser necessário aguardar até meados do ano de 2022 para definir de forma oficial quais projetos de intervenção logística serão executados.

Para encerrar o debate, o moderador Antonio pede aos palestrantes para comentarem sobre os impactos da criminalidade para o desempenho logístico do estado. Os comentários dos palestrantes indicam consensualidade em relação à questão, que afirmam que a criminalidade é fator negativo para a competitividade e que o estado se destaca negativamente ao apresentar índices de criminalidade superiores aos estados vizinhos.

Em relação ao impacto sobre a logística, ele afirma que o setor é dependente de relações de confiança que são muito afetadas pela criminalidade, e o aumento do custo de seguros causado pelo maior risco de roubo de cargas e veículos constitui custo logístico para as transportadoras. Em seguida, os palestrantes ressaltam que a alta criminalidade também impacta o turismo, setor em que o estado apresenta muito potencial. Para resolução do problema, é proposto que o órgão público tem capacidade de derrotar as quadrilhas de roubo de cargas e o narcotráfico por meio de um esforço contínuo e consistente de inteligência e distribuição de efetivo policial.

Acesse ao Estudo do Setor Logístico elaborado pelo SEBRAE – RJ aqui.

Assista o webinar na íntegra:

Autor: Caio José das Chagas Monteiro Aluno de Iniciação Científica do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ)

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