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Empreendedorismo social e de base tecnológica

RELATÓRIO E APRESENTAÇÕES DO SEXTO WEBINÁRIO ‘EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DE BASE TECNOLÓGICA’ DA SÉRIE ‘O RIO DE JANEIRO PÓS-COVID’ DE REALIZAÇÃO DA REDE PRÓ-RIO.

O 6º encontro da série ‘O Rio de Janeiro pós-Covid’ foi o webinar ‘Empreendedorismo social e de Base Tecnológica’, que aconteceu em 25 de agosto de 2021 e contou com a participação de Guilherme Santos (FAPERJ), da Isabella Nunes (IBGE) e de Henrique Silveira (Casa Fluminense) como palestrantes, e de Eduardo Gomes (UFF) como mediador.

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Guilherme Santos

Guilherme inicia sua fala trazendo a importância que o empreendedorismo intensivo em conhecimento tem obtido no debate sobre desenvolvimento econômico de países e de regiões e na agenda dos policymakers. O palestrante traz, nesse contexto, o framework analítico para analisar este tipo de empreendedorismo.

Em seguida, Guilherme traz o conceito de Sistema Regional de Inovação, o qual é composto por alguns subsistemas, como o de geração e difusão de conhecimento, o de produção e inovação, o de demanda e o de política regional, os quais estão permeados por fatores institucionais, sociais e culturais do território, além de estarem em contato com o sistema nacional e internacional.

A literatura aponta que para as políticas públicas de apoio ao empreendedorismo intensivo em conhecimento serem bem-sucedidas, estas devem ter um caráter evolucionário, focado na aquisição de conhecimento e competências, além de considerar tanto a dimensão individual quanto a sistêmica. Tais políticas devem ter objetivos como a criação de empregos e redução do desemprego, aumento da competição e eficiência de mercado, promoção de inovação e desenvolvimento de tecnologias, a aceleração de mudanças estruturais na economia e o desenvolvimento econômico local. Além disso, Guilherme aponta os instrumentos que devem ser combinados, tanto do lado da oferta quanto da demanda, em conjunto com mecanismos de apoio à geração de empreendimentos inovadores.

Ao trazer o cenário imposto pela crise da Covid-19, Guilherme mostra que a pandemia trouxe uma aceleração de tendências estruturais que afetam a economia fluminense há duas décadas, como uma maior polarização entre a indústria extrativa e os demais setores, uma perda forte de empregos formais e maior informalidade, além do aumento no déficit fiscal. Nesse contexto, o empreendedorismo intensivo em conhecimento pode ser uma forma de superação dessa crise fiscal, visto que pode trazer maior diversificação econômica. Além de resolver desafios sociais e econômicos, e ajudar na geração de empregos qualificados e aumento na arrecadação.

Ao trazer o sistema regional de inovação fluminense, Guilherme traz os atuais contextos do estado, iniciando pela área do Conhecimento. Nesse sentido, o palestrante traz um quadro de instituições e seus programas mais bem avaliados de Pós-Graduação no estado. Também é apresentado o cenário da formação de mestres e doutores no estado de 1996 a 2017. Apesar de haver uma oferta qualificada, a interação com o setor produtivo ainda é limitada no estado.

No contexto de Inovação, é possível visualizar que o ERJ tem constante queda da taxa de inovação. Esse contexto é composto de uma ilha dinâmica centrada na cadeia de Petróleo e Gás, composta por empresas que realizam P&D, cercada de um tecido produtivo desintegrado com baixo grau de inovação, composto principalmente por pequenas e médias empresas industriais e de serviços. 

Quanto ao contexto institucional, este possui algumas lacunas. Em seguida, Guilherme traz o papel da FAPERJ nesse contexto, que tem a inovação como uma de suas missões. Essa instituição, que trabalha principalmente a partir de chamadas públicas, recentemente tem procurado apoiar o empreendedorismo desde a ideia até sua consolidação. Isto é, apoiando ao ecossistema de empreendedorismo e inovação fluminense, e trabalhando orientada por missões.

Por fim, o palestrante traz uma agenda pós-pandemia, na qual ele menciona a elaboração de políticas evolucionárias, o fomento da aproximação entre infraestrutura de ciência, tecnologia e inovação e o setor produtivo, a articulação entre diferentes atores do ecossistema fluminense, entre outras diretrizes. Traz novas iniciativas, como o Porto Maravalley, o Polo do Mar e a Revisão da Lei Estadual de Inovação.

Isabella Nunes

Isabella inicia sua fala trazendo seu objeto de pesquisa, sobre os processos empreendedores em espaços entendidos como favela.  Nesse sentido, ela traz seu referencial teórico, baseado na literatura de Sara Sarasvathy, autora que desenvolveu o Effectuation, método que interpreta o empreendedorismo através de uma racionalidade processual. A palestrante traz a contraposição do raciocínio de empreendedores de sucesso e de alunos de MBA das universidades americanas, os quais possuíam uma lógica causal, baseada num objetivo final planejado. Já a logica efeitual partia dos meios disponíveis para chegar a fins possíveis.

Isabella explica que aplicou o modelo mencionado, e o transpõe para um setor específico informal. Para transportar isso para o ambiente específico das favelas, ela explica que precisou usar um referencial teórico utilizado em regiões marginalizadas. Nesse contexto, a palestrante expõe as redes de reciprocidade existentes nesses territórios, as quais podem ser horizontais e baseadas na confiança, ou verticais baseadas na lealdade. Foi possível observar, segundo Isabella, que o modelo teórico do Effectuation foi confirmado na Rocinha. No entanto, ao transpor para uma realidade vulnerável, o desenho do modelo se diferencia do modelo de Sara Sarasvathy.

Em seguida, Isabella descreve as principais conclusões observadas, evidenciando que foi possível perceber que a lógica de sobrevivência fala mais alto que a de mercado nessas regiões. Além disso, o propósito da criação dos negócios não era a ampliação de mercado, mas garantir uma sobrevivência que garanta uma melhoria nas condições de vida. O baixo nível de instrução não foi observado como uma barreira do sucesso na atividade empreendedora, ao contrário do que diz a literatura. Outro ponto observado é que o comprometimento das partes interessadas era o fator de sucesso mais crítico para o empreendedorismo. O raciocínio de Effectuation, portanto, sugere uma abordagem poderosa para esse contexto, e pode ser a base para políticas públicas.

Para concluir, Isabella traz a realidade de políticas públicas que não conhecem o fenômeno. A partir do momento que se reconhece as particularidades de um determinado contexto, torna-se mais possível o desenho de uma política pública capaz de responder melhor aos problemas. Dessa forma, Isabella questiona quais ações poderiam ser realizadas diante desse cenário. As iniciativas em curso podem estar equivocadas por não perceberem a potências nos espaços de favela. A palestrante explica que a recuperação da economia e do emprego está sendo também sustentada pelos empreendedores por conta própria, os quais devem ser objeto de políticas públicas.

henrique Silveira

Henrique inicia sua fala introduzindo a Casa Fluminense, a qual é uma organização da casa Civil que busca contribuir para a construção de políticas públicas que reduzam igualdades e aumente a participação social na região metropolitana do Rio de Janeiro e elaborar um projeto de desenvolvimento para o Rio.

O palestrante traz as frentes de atuação da organização, como a elaboração de diagnósticos de desigualdade da metrópole do Rio de Janeiro, além divulgação de cartas de proposições e monitoramento das políticas públicas. Outra frente citada por Henrique é a de mobilização de base social, importante para entendimento do empreendedorismo. Ele traz a importância dessa atuação no contexto de pandemia do COVID-19, e acrescenta o tema do empreendedorismo social. Mais especificamente, Henrique explica que sua fala trata dos agentes do terceiro setor e atuação na ponta da desigualdade dos diferentes territórios da região metropolitana do Rio de Janeiro.

Tais organizações foram fundamentais no processo de enfrentamento da COVID-19 na região metropolitana do Rio de Janeiro. Esse conjunto de organizações presentes no cotidiano possuem sua própria tecnologia social e produzem redes de cooperação, tornando-se fundamentais para uma resposta rápida da sociedade civil contra a pandemia. Nesse contexto, Henrique traz o papel do fundo da Casa Fluminense, que foi de garantir a estrutura para organizações que buscavam distribuir cestas básicas para famílias em situação vulnerável no decorrer da pandemia.

Henrique traz exemplos de iniciativas voluntárias observadas durante a pandemia da COVID-19. Além disso, ele menciona outra atuação da Casa Fluminense, a de apoio a pessoas e organizações do terceiro setor que pretendem de se formalizar e trazer melhorias à gestão. Nesse sentido, ele traz exemplos de apoios da Casa Fluminense a tais grupos que buscavam a formalização.

Por fim, traz a iniciativa de abertura de edital para apoiar essas organizações na região metropolitana. Henrique explica que a Casa Fluminense busca também desenvolver uma frente de atuação que estimule a geração de trabalho e renda. O palestrante finaliza sua fala trazendo a importância de uma agenda que consiga, por meio da filantropia, apoiar movimentos locais. Tais grupos têm capacidade para serem ser parceiros fundamentais para a construção de políticas públicas na região metropolitana, visto que possuem maior conhecimento das condições do território.

Rodada de perguntas

  • Eduardo Gomes introduz a rodada de perguntas perguntando a Isabella Nunes a respeito de como deveriam ser as políticas públicas mencionadas.

Isabella inicia sua resposta explicando a necessidade de compreender o enraizamento como fator determinante para o sucesso dos empreendedores, ao contrário do que é observado em políticas públicas tradicionais. A palestrante salienta a necessidade de conhecer os valores locais e as particularidades do contexto das favelas.

Renata Lèbre complementa, trazendo a possibilidade das organizações do terceiro setor terem participação nas avaliações dos projetos tanto empreendedorismo social quanto empreendedorismo tecnológico, por conhecerem as condições do território. Guilherme complementa e afirma ver interseções entre os dois tipos de empreendedorismo em diversas áreas e vê a necessidade de conhecimento das especificidades do território, o qual pode ser aproveitado de diversas formas, como a partir de jovens formados pelas universidades e que foram o foco das políticas de ação afirmativa.

Henrique complementa, e vê a possibilidade de articulação entre as ilhas de inovação de produção de tecnologia social com questões de base tecnológica. Além disso, também ressalta a importância do conhecimento do território que necessita ser conectado para a construção de política pública.

  • Henrique pede para que Guilherme explique o programa “Doutor Empreendedor”, citado em sua apresentação.

Em linhas gerais, Guilherme traz a lacuna existente entre a titulação de Doutores no Rio de Janeiro e a absorção dessa mão-de-obra pelas empresas privadas. Nesse sentido, esse programa é um caminho para Doutores que desenvolveram, ao longo da trajetória acadêmica, tecnologias nas diversas áreas, a fim de criar empresas de base tecnológica. O palestrante traz os benefícios que esses doutores têm direito para o desenvolvimento do projeto, além do acesso a algum mecanismo de suporte ao empreendedorismo, como incubadoras e aceleradoras. Os resultados ainda são desconhecidos, mas Guilherme traz a possível mudança cultural implementada por esse projeto, fazendo com que a demanda desses doutores aumente ao longo do tempo.

Assista o webinar na íntegra:

Autora: Yasmin Ventura Araújo Aluna de Iniciação Científica do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ)

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