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Industrialização do Rio de Janeiro no médio prazo: desafios para metrópole e interior

RELATÓRIO E APRESENTAÇÕES DO SEGUNDO WEBINÁRIO ‘industrialização do rio de janeiro no médio prazo: desafios para metrópole e interiro’ DA SÉRIE ‘O RIO DE JANEIRO PÓS-COVID’ DE REALIZAÇÃO DA REDE PRÓ-RIO.

O 2º encontro da série ‘O Rio de Janeiro pós-Covid’ foi realizado através do webinar ‘Industrialização do Rio de Janeiro no médio prazo: desafios para metrópole e interior’, que aconteceu em 31 de março de 2021 e contou com a participação do Professor Joilson Cabral (UFRRJ), do Professor Alcimar das Chagas (UENF) e da Professora Lia Hasenclever (UFRJ) como palestrantes, e do Professor Leonardo Muls (UFF) como mediador, além da breve participação do Professor Bruno Sobral na abertura do webinar.

prof. lia hasenclever

A Prof. Lia Hasenclever iniciou o ciclo de falas apresentando um estudo sobre a evolução do emprego industrial brasileiro por macrorregião e intensidade tecnológica. Ela afirma que o emprego industrial cresceu de forma mais acentuada em municípios pequenos, enquanto grandes municípios passaram por crescimento mais baixo. Em relação aos efeitos da Covid-19 sobre a indústria, a Professora mostra que o desempenho industrial do Rio de Janeiro apresentou queda mais acentuada que a nacional, além de sugerir que a crise afetou mais as indústrias extrativas. Além das extrativas, as indústrias de automotores, de produtos alimentícios, de borracha e material plástico e de produtos de metal tiveram menor desempenho. Detalhando esse dado, mostra ainda que entre as indústrias que cresceram nesse período estão a farmacêutica, extrativa, e de equipamentos de transporte exceto veículos automotores.

Em suas considerações finais, afirma que o emprego industrial cresceu mais nas regiões Centro-Oeste e Norte e também em municípios médios e pequenos. Em relação ao estado, aponta que o valor adicionado estava mais concentrado na metrópole e na região Norte Fluminense, mas que esta posteriormente perdeu força. A região metropolitana também continua sendo o local com maior concentração de vínculos empregatícios. Conclui-se que pode estar havendo um processo de terceirização metropolitana, restando na região majoritariamente indústrias extrativas ou primárias. Este fenômeno pode estar por trás do pior desempenho industrial do Rio de Janeiro durante o período da pandemia.

prof. joilson cabral

Em seguida, o Prof. Joilson Cabral foi o segundo palestrante do Webinar. Os principais pontos trazidos por ele para explicar o esvaziamento produtivo no estado são a transferência da capital para Brasília sem compensação para o estado, a escassez na produção de dados nos centros de pesquisas estaduais, a carência de reflexão regional e uma condução da política industrial baseada em tentativa e erro realizadas durante o governo de Sérgio Cabral.

O Prof. Joilson realiza uma comparação da matriz de insumo-produto do Rio de Janeiro entre o ano de 2009 e de 2015. Enquanto em 2009, os setores-chave eram os de mineração, refino de petróleo e coque, e energia elétrica, no ano de 2015, os setores-chave são a indústria extrativa, de transformação, e de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação. Além disso, ainda se destaca o setor de construção, comércio e turismo.

Entrando em detalhes em relação à estrutura produtiva fluminense, o Prof. Joilson divide o estado em três grupos. O primeiro contempla apenas a cidade do Rio de Janeiro, tem como principais atividades a mineração, comércio, transporte, atividade financeira, atividade científica, informação e outras indústrias que não a de transformação. O segundo grupo, que engloba a grosso modo os municípios da região metropolitana, tem como principais atividades de informação, transporte, atividade científica, eletricidade e outras indústrias. A terceira região abrange o restante dos municípios. Encontra-se que os impactos diretos e indiretos do primeiro grupo respondem por 48,01 % do valor adicionado do estado, enquanto os segundo e terceiro respondem por 31,46% e 35,64%. Assim, seu diagnóstico é de que a economia do estado se concentra muito na capital.

Em suas considerações finais, o Prof. Joilson afirma ser necessário um planejamento através de políticas públicas de médio e longo prazo visando o adensamento produtivo baseado em métodos de análise eficiente. Por fim, propõe setores potenciais para o estado, como o complexo de óleo e gás, o complexo econômico-industrial da saúde, o complexo do turismo, e o complexo tecnológico e industrial de defesa e de economia do mar.

prof. alcimar das chagas

O Prof. Alcimar das Chagas, utilizando o método Shift Share, busca avaliar o desempenho do setor industrial através do emprego, no período de 2001 a 2019. É apontado que a crise de 2008 pode ter afetado a indústria fluminense, entrando a partir deste ano em uma trajetória de queda. E, sendo mais acentuada após a crise de 2014 e tendo os empregos diminuído em 24,18% até 2019. De acordo com a análise Shift Share, apenas 4 subsetores da indústria fluminense apresentam vantagens comparativas: indústria extrativa mineral; mecânica; de material de transporte; e de alimentos e bebidas. O Prof. Alcimar observa que esses subsetores apresentam características comuns, como uma forte oligopolização, densidade em tecnologia, concentração de riqueza, aprofundamento da desigualdade, baixo padrão de irradiação espacial das externalidades positivas, e crescimento com origem exógena ao estado.

As alternativas propostas por ele passam pelo fomento de iniciativas industriais “neo-endógenas” e pelo planejamento de negócios através dos recursos locais, além da modernização sistêmica da organização produtiva, em linha com a fala do Prof. Joilson em relação ao desenvolvimento de uma articulação entre universidades e setor produtivo. Por fim, o Prof. Alcimar traz um quadro com elementos para o desenvolvimento regional que leva em conta o planejamento e gestão da produção integrada no território, a identificação dos recursos tangíveis e intangíveis, a gestão participativa para induzir a formação de capital social, e o fomento a criação de economias de aglomeração.

Rodada de perguntas

Leonardo Muls inaugurou a rodada de perguntas com o questionamento de se existe uma falta de consenso político sobre a importância da indústria no Rio de Janeiro e se o complexo industrial da saúde poderia acabar sendo esvaziado, assim como aconteceu com o Comperj.

A Prof. Lia pontua que não é apenas o Rio de Janeiro que falta este tipo de consenso. E, que na verdade, o consenso vigente atualmente é que é possível se desenvolver a partir da exploração de commodities, indo contra a concepção cepalina.

Por outro lado, o Prof. Joilson, afirma que o complexo da saúde está mais ou menos articulado por ter surgido como uma política bottom-up, ao contrário do caso do Comperj que dependia da Petrobras.

  • O complexo tecnológico naval do Rio de Janeiro, em articulação com a FIRJAN, pode ser compreendido como esforço de adensamento da indústria de óleo e gás? Em que medida o potencial de gás associado ao petróleo pode, ao ser convertido em energia por plantas termoelétricas, alavancar a reindustrialização do Rio de Janeiro?

O Prof. Joilson responde que o polo tecnológico naval e de economia do mar é uma articulação do Emgeprom com alguns atores do estado. O objetivo do polo é desenvolver a indústria a partir do potencial em biotecnologia marinha e na área de defesa. Ele afirma que o polo acabou contratando um estaleiro em Santa Catarina para a produção de fragatas, não contribuindo para o desenvolvimento da indústria do Rio de Janeiro. Em relação à indústria do gás, ele afirma que de fato há potencial, mas não pode haver uma limitação somente às termoelétricas. No entanto, isso

Por último, o Prof. Alcimar também aponta as dificuldades para a instalação de indústrias ao redor do gás, que sofre especialmente com problemas de demanda.

  • Como alavancar o turismo sem investimentos em infraestrutura?

A visão do Prof. Joilson é de que sim, visto que esse tipo de investimento já foi realizado na capital quando da preparação para mega eventos. De fato, o impacto no aumento do turismo foi menor do que o imaginado com este planejado. No entanto, é preciso apontar que o turista se mantém na capital. Dessa forma, uma articulação entre as secretarias de turismo municipais e estadual para que haja uma interiorização do turismo. Os benefícios dessa interiorização estão relacionados ao maior tempo de estadia e geração de recurso para o estado, além de completar a cadeia produtiva na parte de insumos.

Por outro lado, a Prof. Lia contesta a qualidade da infraestrutura de serviços de turismo no interior fluminense, que apresenta fortes deficiências desde a qualidade de estradas até a de hotéis. E também na capital, que possui infraestrutura fraca comparada à cidade de São Paulo.

  • Há possibilidades de desenvolver sistemas agroindustriais na região Norte Fluminense?

O Prof. Alcimar afirma que os recursos potenciais estão no interior, mas que o Rio de Janeiro é caracterizado por pequenas propriedades e, assim, adotou-se uma estratégia de transferência de tecnologia. Porém, essa estratégia apresenta problemas, visto que os proprietários não têm condição de absorver a tecnologia. Dessa forma, considera que se deve pensar territorialmente, por exemplo integrando produtores rurais, necessitando, no entanto, um nível de capital social que a região ainda não possui e precisa ser desenvolvido.

Por sua parte, a Prof. Lia concorda com as ideias expostas pelo Prof. Alcimar. No entanto, ressalta a importância da realização de uma reforma agrária.

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Autor: Leonardo Braga Dutra Aluno de Iniciação Científica do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ)

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